Noite Fria, Noite Sem Sono, Noite VaZiA...

Eu até tentei mas não consegui dormir. Em meio à preguiça, levantei as 2h11min. para escrever já que esta era a única inspiração para mim em uma madrugada meio fria e sem sono. Na

verdade, sinto um pouco de dor de cabeça e imerso em meus pensamentos, não consigo pregar os olhos. O que sinto, sei bem porque é, é, é porque ultimamente tenho me sentido muito incomodado com minha situação.

Eu sou um homem de 27 anos e ainda vivo sobre o muro, eu sei o que quero da vida como profissão, e futuro, mas meu presente é tão incerto, que não sei o quanto ele poderá influenciar no meu futuro. Como seria bom poder pular algumas partes da minha vida e ir direto para aquele momento em que eu estou feliz e realizado morando em meu apartamento com dois ou até três filhos e feliz com o homem que amo! Infelizmente não dá para ser assim e para chegar a este nível eu sei que trilharei por caminhos bastante espinhosos.

Como você que acompanha meu blog já sabe, moro com minha mãe, e somos evangélicos. Sou uma pessoa muito mente aberta e sem preconceitos, por isso, não estou na igreja vivendo de forma alienada, mas admito que vivo de forma errada. Não errada porque sinta o pecado em mim, mas sim porque não estou sendo sincero comigo mesmo. Quem sou, ou o que sou não sou eu mesmo, mas alguém moldado, pelos padrões sociais, moldado pelos olhares e vontades dos outros. Nunca meus desejos prevaleceram - exceto quando os realizei ocultamente.

Às vezes, o cara com quem estou ficando me pergunta se eu não penso em contar para minha mãe sobre mim, ou se eu não imagino o quanto errado eu estou em estar na igreja enganando aos outros e a mim mesmo. Eu sempre respondo a ele que "penso nisso a todo momento" e justamente por sempre estar pensando nisso é que sinto o aperto na minha mente. Sabe aquele chocolate redondo que tem umas três camadas e cada camada é diferente até chegar na bola de chocolate que está lá dentro? Assim sou eu, vivo coberto de várias camadas e me sinto mal por saber que não posso agradar a dois senhores, porque sempre agradarei a um e aborrecerei ao outro! 

Quando penso em tomar uma atitude, eu percebo o quanto isso é difícil - mesmo algumas pessoas dizendo que é só abrir a boca e falar - e que a questão não é apenas falar, mas sim, as consequências que isso pode me acarretar. Nossa, olho para minha vida e vejo o quão longe já cheguei e sempre me pergunto se não é tarde demais para voltar? Será que haverá perdão para minha alma? Será que Deus em sua ira por eu abandonar sua casa não me lançará sobre uma vida de miséria e total desgraça? Será que conseguirei viver com a condenação eterna na alma e no corpo daqueles que vivem ao meu redor? O que será que vou ouvir, perder e sofrer? Estas são apenas algumas questões que rondam minha mente diariamente, e por mais que eu as esqueça por algum momento, elas sempre voltam fazendo questão de me lembrar que ainda estão ali!

Viver assim é terrível, e eu não sei como tem gente de olhar para um homossexual e dizer que o cara é um descarado sem vergonha. Como pode ser uma descaração se NINGUÉM em sã consciência quer sofrer, quer viver à margem do preconceito, do desrespeito e da rejeição? Não há louco que queira isso para sua vida, mas a sociedade não percebe que se há pessoas que lutam tanto por esta causa é porque há algo mais, há algo que eu não pedi quando saí da maternidade para ter, não procurei onde vendia para comprar. Sabe, eu estou cansado, cansado dessa novela, destes intermináveis capítulos, cansado de montar os cenários, gravar falas e interpretar. Mas não pode ser qualquer interpretação, tem que ser a mais convincente possível que "engane" até o mais experiente professor de teatro clássico.

Eu sinto a minha alma solta no meu corpo como uma bolinha dentro de uma lata, se você chacoalhar vai ouvir seu barulho. Eu olho para meus amigos, colegas e para minha mãe e tenho que sorrir por uma pessoa que não sou, tenho que falar e concordar balançando a cabeça afirmativamente com o que eu discordo. Minha opinião não importa, tudo isso é herança de uma pessoa que sempre viveu - ou melhor, que aprendeu a viver - sem ter direito de opinião, crescendo sempre para agradar aos outros e não a si mesmo, para ser o orgulho e não a vergonha. Depois destas palavras talvez eu consiga deitar e dormir melhor!