domingo, 10 de agosto de 2014

De Orgulho a Vergonha: Assumindo a Homossexualidade Parte I

Olá pessoal, estou há algum tempo sem postar nada no blog mas foi porque estava - e ainda estou - com problemas na minha internet. Decidi aproveitar o pequeno momento em que consegui me conectar para contar-lhes, ou melhor, desabafar sobre um momento muito importante na minha vida, quando decidi abrir o jogo e viver minha vida como gay!

Na verdade, ultimamente eu estava muito nervoso, muito tenso e bastante estressado por causa de toda essa pressão em ser gay e viver escondendo de tudo e de todos. Para muita gente, é fácil lidar com isso e viver essa duplicidade por toda a vida, mas para mim não. Apesar de achar que vivi tempo demais "dentro do armário", já estava me sentindo sufocado e nem conseguia conversar com as pessoas de forma natural, o teatro já não estava mais dando certo e tudo o que eu queria era poder respirar, não ter mais o peso de uma vida oculta nas minhas costas.
Na última quinta-feira, convidei um grande amigo para almoçarmos juntos e eu desabafar com ele, mas não deu certo, ele apareceu acompanhado de uma colega nossa de trabalho e acabei me irritando bastante, o que ficou visível para ambos. Quando saímos do restaurante, ela voltou para o trabalho e nós passamos no mercado, eu disse a ele que estava precisando tanto de alguém para conversar e ele além de demorar me aparecia acompanhado. Depois, no trabalho, ele me deu a chave da sua casa antes de sair e eu fui para lá quando terminei meu expediente.
Quando ele chegou nós ficamos conversando, pude falar para ele o que estava sentindo e que estava com muito medo. Minha mãe é evangélica, daquelas que busca muito a Deus e procura combater o pecado com toda a força e veemência. Eu estava apavorado sem saber o que poderia me acontecer assim que eu contasse para ela, mas ele me acalmou, me aconselhou bastante e disse que caso fosse preciso, sua casa estaria aberta para mim.
No dia seguinte fui para casa, cada passo, cada minuto, cada segundo era muito angustiante! Meu coração palpitava bastante, era quase visível ele pulsando no meu peito. Fiquei na sala vendo TV enquanto ela estava deitada. Assim que levantou eu entrei em desespero interno, cheio de medo. Ela foi para o banheiro, me pediu para comprar ração - o que fiz como meio de fuga daquela situação que eu iria causar - e logo que voltei ela estava no telefone e limpando o quintal. Sentei no sofá, como não conseguia me concentrar em mais nada, desliguei a televisão e continuei ali até que ela entrasse e eu tomasse coragem.
Quando minha mãe entrou, ficou na cozinha por alguns minutos colocando seu café, quando ela chegou na sala com a xícara na mão e antes que pudesse falar qualquer coisa eu disse:

- Ah, deixa eu falar uma coisa com a senhora (estava tremendo e nessas horas não sei porque mas as palavras costumam fugir e todo o discurso anteriormente ensaiado não serve mais para nada).
- Sim.. (disse ela).
- Eu quero dizer a senhora que sou gay, e que a partir de hoje vou viver minha vida, sem ter que ficar escondendo nada de ninguém (falei com os olhos lacrimejando)

Minha mãe olhando para mim, com a mesma naturalidade que estava - acredito que deva ter sido pelo choque da notícia - começou a me repreender como se eu estivesse com uma legião de demônio no corpo. Ela falava "está repreendido em nome de Jesus, todo espírito maligno, eu não aceito isso na minha casa nem em qualquer lugar, Deus não te salvou para você ser gay, você é servo de Deus e macho e não homossexual", etc. Ela repreendeu assim por uns três minutos e ainda colocou a mão sobre minha cabeça para tirar o demônio do meu corpo. Confesso a vocês que não é nada fácil! Eu fiquei calado para não piorar a situação e ela pensar que eu estava manifestado, mas não via a hora daquela sessão terminar.

Depois disso ela também não falou mais nada sobre, acredito que para ela, eu deva estar agora liberto - eu também acredito assim porque agora posso ser eu mesmo, estou liberto da opressão social e religiosa - mas sei que ainda não é o fim. Alguma coisa ainda ela deve fazer e falar, principalmente quando surgir a oportunidade de eu sair, mas sabe, o fato de ter falado me deixa mais aliviado, mas ainda falta a igreja e os amigos. Hoje me sinto desconfortável porque ainda há certo clima de estranhismo, tanto dela por não aceitar porém, nada falar; e da minha parte pelo fato de ela saber, e como eu disse no início, ela vai combater esse "pecado" da minha vida, e ainda não é o fim...

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