Malafaia, a genética e o meu direito de amar quem eu quiser
Por Arthur Henrique Chioramital | Amigo Gay![]() |
Quem você ama? (Foto: Thinkstock) |
No último domingo (dia 3 de fevereiro), o pastor evangélico Silas Malafaia participou do programa "De Frente com Gabi". Entre outros pontos polêmicos, Malafaia afirmou que a orientação sexual do ser humano seria um traço exclusivamente comportamental, sem nenhuma influência genética ou biológica. Ao longo da entrevista, ele citou meia dúzia de estatísticas capengas e fora de contexto para sustentar sua tese. Os dados proferidos pelo líder religiosos eram tão absurdos que motivaram o biólogo, Mestre em Genética e doutorando na mesma área em Cambridge, Eli Vieira, a gravar um vídeo refutando cada um deles e provando com rigor científico que o que foi dito por Malafaia não passava de um amontoado de erros e distorções.
As declarações geraram forte repercussão nas redes sociais. De um lado, algumas pessoas apoiando o discurso de ódio e segregação do “homem de deus”. Do outro, um punhado de gente sensata, muitas delas também evangélicas, que já perceberam que o gênero da pessoa com quem eu me relaciono diz respeito apenas a mim e que isso não representa defeito ou virtude, doença, desvio ou sinal de bom caráter.
Eu sou contra dar qualquer tipo de cartaz para tipos como Silas Malafaia, simplesmente por acreditar que eles representem o que de pior o gênero humano é capaz de produzir em termos de ignorância, retrocesso, ódio e desrespeito ao Estado de Direito e as liberdades individuais. Então, não é sobre ele que eu quero falar.
O texto de hoje é sobre quem está do outro lado do balcão. É sobre as pessoas que amam de forma diferente do estabelecido. Esse grupo, meus caros, vai muito além de gays e lésbicas. Ele inclui todos os casais cuja composição foge da convenção. É o caso das mulheres mais velhas que se relacionam com homens mais novos, pessoas com parceiros de religiões ou etnias diferentes, casais com origens sociais distintas, isso para ficar nos exemplos mais óbvios.
Fico imaginando o que passa pela cabeça de quem se acha detentor do direito de torcer o nariz para o objeto de desejo de outra pessoa. De qual lugar obscuro vem a ideia de que a felicidade tem cor, tamanho ou forma rigidamente definida e qualquer coisa diferente disso deve ser rechaçada, perseguida e eliminada? De onde vem esse conceito torto de igualdade que condena quem ama o diferente? Pior, que definição distorcida de democracia é essa que legitima a violência e a perseguição ideológica sob o rótulo de liberdade de expressão.
Gente, hora de acordar. Ofender, estimular o ódio e propagar a segregação não é, nunca foi e jamais será liberdade de expressão. Esse tipo de comportamento se baseia, justamente, na falta da consciência de espaço individual que serve como base para as democracias maduras ao redor do mundo.
Veja bem, nós só queremos andar de mãos dadas sem ter medo de levar uma pedrada. Só queremos cumprimentar nossos parceiro com um selinho sem atrair olhares. Só queremos ficar abraçado na fila do cinema sem ser motivo de desconfiança. Só queremos caminhar pela rua sem ouvir piadas. Só queremos ter o direito de deixar herança ou dividir o plano de saúde com as pessoas que escolhemos para dividir nossas vidas sem precisar entrar com um processo para isso. Só gostaríamos que vocês ignorassem a nossa existência da mesma forma que ignoramos a de vocês. Não porque não existamos no mundo uns dos outros, mas porque a forma como levamos nossas vidas diz respeito a nós e a ninguém mais.
Por último, mas não menos importante: deixem Deus fora disso. Ele tem coisas mais importantes com as quais se preocupar com o fato de eu amar um homem a uma mulher. E mais, não precisamos ser salvos de nada além da ignorância e do preconceito que alguns grupos da sociedade insistem em disseminar. Mesmo.
FONTE: http://br.mulher.yahoo.com/blogs/amigo-gay/malafaia-gen%C3%A9tica-e-o-meu-direito-amar-quem-114741309.html
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