- O que você espera dessa noite Felipe?
- Bem, espero me divertir muito, conhecer algumas gatas, e quem sabe ficar com alguma. E quanto a você?
- É... eu espero me divertir também.
- Não pretende ficar com nenhuma garota?
- Eu? É... não sei, sou muito tímido, sabe?
- Pois é, eu também sou...
- Sei muito bem, já até imagino.
Felipe me deu uma olhada cínica enquanto dávamos
risada, depois voltou a separar a sua roupa. Assim que Otávio saiu
do banheiro, sugeri que ele fosse logo, eu iria por último para não
deixar os dois a sós, já que eles não se dão muito bem.
Em minha cabeça passava uma série de coisas, por mais
que eu quisesse organizá-las não seria possível. Tudo era
imprevisível demais, não fazia ideia do que poderia acontecer, qual
seria a minha tática para seduzir Felipe – se é que eu
conseguiria fazer isso – e como me comportar na hora.
Eu estava com um turbilhão de ideias, mas nenhuma
parecia ser criativa o suficiente para funcionar, só me restava
então, me lançar à sorte e ver o que viria a acontecer. Eu pensava
enquanto tomava banho e me arrumava distraído, até que ouvi alguém
bater à porta: era Felipe, queria que eu não demorasse mais porque
já estavam nos chamando para o jantar. Nem percebi o tempo passando,
estava tão voltado para meus pensamentos.
Apressei-me em me arrumar e logo desci para me juntar
aos outros que já estavam à mesa, Otávio também não tinha
descido e descemos juntos. Tio Pedro e tia Glória estavam
conversando com Felipe tão à vontade que parecia que se conheciam
há muito tempo, quer dizer, na verdade Felipe tem essa facilidade em
se enturmar com pessoas desconhecidas.
Percebi que meu primo não estava tão à vontade
quanto seus pais, ele mal fazia algum comentário e quando tio Pedro
ou tia Glória lhe inseriam na conversa, ele apenas limitava-se a
emitir alguns sons – posso até dizer grunhidos – que não eram
tão compreensíveis.
- Vocês está com algum problema Otávio? Perguntou tia Glória estranhando o seu comportamento.
- Não, mãe. Estou bem obrigado. Respondeu ele em poucas palavras.
- Não parece – insistiu ela –, você está tão calado, ainda mais com a presença de seu primo e do seu amigo aqui em plena noite de sábado!
- Não, só estou me poupando para a festa.
- Poupando... era só o que faltava. Falou tio Pedro.
- Na verdade, eu acho que ele está se sentindo desconfortável por causa da minha presença. Disse Felipe.
- Não vejo motivos para estranhamentos. Um rapaz tão gentil como você! Comentou tia Glória não entendendo que entre os dois há certa desavença.
- Olha, mãe. Não há nada de errado comigo, será que não posso ficar calado por uns instantes?! Resmungou Otávio meio embravecido com a conversa.
- Tudo bem, filho. Se você diz que está tudo bem, etão tá! Falou tia Glória tendo que se conformar com a resposta de Otávio e para evitar transtornos.
A partir daí, todos ficaram em silêncio e ninguém
mais conversou durante o jantar, Ana limita-se apenas a servir-nos
sem também emitir um som que fosse, meus tios nada mais falaram, e
para tio Pedro então, parecia que nada havia acontecido. Felipe me
olhava por baixo dos olhos e nada dizia também.
No silêncio inerte que estava aquela cozinha, ouvimos
o som de uma buzina irromper bruscamente a inquietude que havia se
instalado ali. Prontamente meu primo se levantou para ver quem era:
eram seus amigos que tinham ido buscá-lo para a roda de fogueira;
ele veio até a cozinha nos avisar. Eu ia voltar para o centro da
cidade com Felipe após a festa sob pretexto de ter deixado meus avós
sozinhos lá:
- Já estamos indo. De lá da festa vou direto para o centro.
- Por que tão cedo assim meu sobrinho? Perguntou tia Glória.
- Vou aproveitar que Felipe está de moto e também meus avós estão sozinhos. Talvez no próximo final de semana eu volte.
Subi para pegar a minha mochila e Felipe também foi
pegar a dele, quando descemos meus tios estavam na sala nos esperando
e nos levaram até a porta. Vi que na frente da casa estava uma
caminhonete com muitas pessoas – todos conhecidos de Otávio – e
meu primo já estava no lado do carona nos esperando.
Dei um abraço apertado em minha tia, e me despedi do
meu tio com um aperto de mão que demorou alguns segundos, ele olhou
bem no fundo dos meus olhos e eu gelei! Parecia até que ele estava
querendo agradecer e ao mesmo tempo se desculpar pela noite que
tivemos. Também cumprimentaram Felipe e ainda o convidaram para
voltar em outra ocasião com mais tempo.
Como a gente não conhecia o local, fomos seguindo
atrás da caminhonete. Felipe dirigia lentamente e eu na parte de
trás do veículo me deliciava sentindo o cheiro do seu perfume,
fechei meus olhos por um instante enquanto sentia aquele cheiro tão
marcante e viajei literalmente. Quando dei por mim, a moto estava
estacionando – a distância não era muito longa.
Descemos e deixamos as mochilas na moto, já dava para
ouvir vozes animadas e quando cruzamos a porteira, podia-se ver
também a fogueira que já estava acesa. Geralmente, essas casas do
interior ficam em terras grandes e as casas no meio do terreno.
Quando entramos, ao centro estava uma fogueira que ainda estava
começando a queimar, à esquerda uma barraca com bebidas – tudo
era pago, lógico – e à direita uma barraca de alimentos. Ah,
próximo à porta de entrada da casa, estava montando o equipamento
de som.
Meu primo foi chegando e cumprimentando seus amigos que
logo saíram me deixando ali com o Felipe, a todo momento não parava
de chegar pessoas. Tinha gente que até do centro da cidade iam para
essa festa e cada vez o local ficava mais cheio.
Sentei em um dos poucos bancos que tinha, enquanto
Felipe foi pegar uma bebida para nós dois, fiquei olhando as
pessoas, muitos homens lindos, cada um mais belo e forte que o outro!
Muita gente também dançava, bebia e conversava, Otávio estava
perto da porteira conversando com seus amigos do centro que tinham
acabado de chegar.
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