Enquanto conversávamos sobre Otávio, o mesmo saiu do
banheiro enxugando a cabeça e mostrou-se surpreso ao ver minha tia
parada na porta conversando comigo, depois, sentou-se na cama ao meu
lado – eu estava deitado – e ficaram falando sobre a infância de
Otávio, suas molecagens, travessuras e até as doenças que ele
teve. Rimos bastante da infância do Otávio, geralmente, nós jovens
temos vergonha que nossos pais falem de nossa infância, mas meu
primo sentia-se bem à vontade falando dele.
A conversa ainda permaneceu durante um bom tempo,
descemos para a cozinha para fazer um lanche, ficamos lá o resto da
tarde, até ajudei Ana e minha tia a fazerem a janta e olha que nos
divertimos muito apenas conversando. Acho que nunca falei tanto como
hoje, quase não paramos de falar.
Enquanto a gente ainda estava na cozinha, tio Pedro
chegou e foi direto tomar um banho e trocar de roupa, nós fomos para
a sala assistir ao noticiário antes de irmos jantar, logo depois,
meu tio desceu – todo cheiroso – cumprimentou-nos e deu um beijo
em tia Glória, sentando-se ao seu lado para assistir conosco. Na
sala tem um sofá que fica perto da janela que dá pra ver a rua, ou
melhor, a estrada, e em frente a ele fica um outro sofá, no meio
fica a TV. Eu estava com Otávio e Ana, enquanto meus tios estavam no
sofá afastado da janela sozinhos, eu olhava mais para meu tio que
para a televisão, ele com aquele corpo fresco, pós banho vestido
uma bermuda jeans e camiseta branca abraçando minha tia –
bem que poderia ser eu.
Eu estava tão estático olhando para ele – sem
deixar que os outros percebessem, claro – que nem percebi quando o
jornal terminou, só ouvi minha tia dizendo “agora vamos
jantar!”. Otávio desligou a TV e todos foram para a cozinha
jantar, lá a conversa começou novamente, esse povo nunca cansa de
conversar, talvez, esta seja a única coisa que tenham para se
distrair.
Ainda era cedo, sete horas, mas como é de costume das
pessoas aqui do interior, as refeições são feitas cedo e todos
geralmente dormem cedo, exceto os mais novos que com a energia,
celular, internet e algumas fotos, costumam dormir um pouco mais
tarde.
Depois do jantar, meus tios não assistem TV, vão
direto para o quarto até dormirem, eu, Otávio e Ana ficamos
assistindo um pouco, tinha um filme que Otávio havia baixado e ele
colocou para a gente. Não gostei muito do tipo de filme, mas como
não tinha outra coisa... quando terminou, já era quase dez, Ana
estava cochilando no sofá...
- Acorda, Ana, vai dormir na cama – falou Otávio.
- Nossa – falou com os olhos quase fechados e voz sonolenta – eu peguei no sono que nem vi.
- Então vai para a cama, já está tarde – Falei.
Desligamos a televisão e fomos dormir, fui direto para
o banheiro colocar minha roupa de dormir – um short e
camiseta – e escovar os dentes. Quando voltei, Otávio já tinha
trocado de roupa e só estava esperando eu sair para poder escovar
seus dentes. Abrimos a cama, peguei um cobertor de algodão e nos
deitamos.
Eu não conseguia dormir, nos primeiros momentos é
difícil dormir logo em um lugar onde não estamos acostumados, não
demorou muito, logo ouvir os roncos baixos de meu primo, fiquei
olhando para o teto um bom tempo, como o sono não queria vir,
levantei um pouco e fiquei na janela, olhando o vento balançar as
folhas, fazia um friozinho, só se ouvia o som das folhas, não se
via ninguém passando pela estrada, nem um carro ao longe se
avistava. Acho que fiquei por quase uma hora ali na janela, depois
fui deitar, aí que peguei no sono sem nem perceber a hora...
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