Eu não sabia o que fazer com aqueles dois, mas ao menos
eles não estavam se enfrentando em um confronto de palavras. Ficamos
ali naquele sofá assistindo, eu não tinha o menor interesse por ver
aquilo, mas como ambos – enfim em alguma coisa – gostavam do
programa, era melhor ficar ali com eles mesmo.
Quando o programa já estava quase no final, Ana chegou
da entrada da sala e nos chamou para o almoço, que já estava sendo
posto. Meu primo não deu muita atenção, Felipe também não
manifestou nenhuma reação porque não estava em seu “ambiente
natural”, mas olhou para mim com uma expressão bem interrogativa.
- Bem, pessoal, é melhor a gente ir almoçar antes que a comida esfrie não acham? Perguntei quebrando o silêncio mórbido daquela sala.
- É, podem ir se quiserem, eu o programa já está quase no fim. Respondeu Otávio.
- Então vamos. Disse Felipe.
Eu e Felipe fomos para a cozinha, ele na verdade queria
terminar de ver o programa também, mas não queria ficar na sala com
Otávio sozinho, claro que, se ele preferisse por terminar de
assistir, eu também teria que continuar ali com ele.
- Cadê Otávio? Ele não vai almoçar não é? Perguntou Ana estranhando a ausência do meu primo.
- Ele já vem, ele vai terminar de assistir TV.
- Ah, sim. Mas se os pais dele estivessem aqui, queria ver ele fazer isso.
- Hoje ele teve sorte. Comentei rindo.
Ana começou a nos servir, Felipe demonstrou
preocupação com o fato de Otávio não estar presente, pois o mesmo
poderia não gostar de ver a gente começar a comer sem ele estar
presente. Eu não liguei muito para isso porque o mundo não pode
girar em torno de uma pessoa.
Assim que começamos a nossa refeição, Otávio entrou
na cozinha. Entrou sem fazer barulho, desencostou a cadeira da mesa e
sentou-se, começou a servir-se, tudo isso ele fazia em silêncio,
não falava nada. Felipe e eu olhávamos para cada movimento que ele
fazia, observávamos atentamente tudo: cada gesto, cada movimento,
cada olhar, enfim, tudo!
- Então, Felipe, o que você faz na sua cidade? Perguntou Otávio.
- Eh... eu trabalho em uma gráfica. Aqueles desenhos que você vê em cartazes, desenhos e até mesmo em revistas, sou eu quem faço. Não todos, é claro. Respondeu Felipe.
- Hum, interessante. E, você tem namorada e filhos? Perguntou novamente Otávio.
- Não, não tenho. Sou livre pra curtir minha vida! Talvez um dia eu me case e tenha filhos, mas por enquanto, não quero nada sério com ninguém.
- Está bem... Disse Otávio.
Após fazer essas duas perguntas, ele voltou ao seu
almoço e não falou mais nada, nem com Felipe, nem comigo. Eu olhava
para ambos e o aspecto deles era indiferente. Decidi começar um novo
diálogo para ver se eles se entrosavam, mas, por mais que eu
perguntasse e depois fizesse referência de um para o outro, eles
estavam bastante econômicos em suas palavras.
Eu fiquei sem graça, não dava para ficar fazendo o
papel do palhaço, tentando distrair ambos sem êxito algum! “Está
bem, se vocês não querem falar, então eu também vou me calar”.
Otávio e Felipe param com o garfo ainda chegando às suas bocas e me
olharam sem reação, segundos depois voltaram para suas realidades.
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