Ao chegar na entrada do quarto, decidi aproveitar aquele
começo de manhã para fazer outras coisas, eu estava há três dias
na casa dos meus tios e ainda não tinha entrado no escritório, nem
mesmo para ver como é. Dei meia volta e fui a passos largos ver como
era o local. O escritório do meu tio era muito bonito, pequeno, mas
bem organizado e limpo. Tinha uma janela que dava para o pátio da
casa, na parede à direita tinha uma escrivaninha com um computador,
sobre a mesma, dois porta-retratos, um de cada lado com fotos da
família em seus momentos de lazer.
Na parede de costas para o computador tinha uma
prateleira de livros que tomava todo o espaço, havia títulos
diversos – acho que ninguém pega um para ler, nem mesmo meu tio –
na parede onde ficava a janela tinha um sofá muito confortável e no
canto da outra parede também, mas sobre este, ficava um belo quadro
com paisagens rurais. O espaço era tão calmo e aconchegante, que se
eu tivesse descoberto antes, tinha feito daquela sala o meu
esconderijo, meu local de refúgio.
Sentei em um dos sofás, e fiquei pensando um pouco na
vida: as vezes, na nossa vida as coisas sempre ou na maioria das
vezes acontecem como nunca imaginamos. Por mais que eu desejasse ter
o meu tio, isso sempre tinha sido algo da minha mente ou uma
fantasia, mas quando realmente aconteceu, eu não esperava, depois
vem um certo arrependimento, mas fazer o que? Já fizemos, na hora
que você está no ápice da excitação, você não se preocupa com
nada, ou com ninguém.
Eu queria, e não queria que aquilo tivesse acontecido,
talvez, se fosse com Otávio, a culpa não seria tanta, ele é jovem,
solteiro, e não carrega o peso de uma família nas costas. Não dava
para viver me martirizando por causa do que aconteceu, agora, eu
entendi o porquê meu tio não queria ficar comigo nessa madrugada,
ele estava certo! Mas também não ficaria sofrendo, aconteceu e nada
poderia fazer voltar o tempo e mudar tudo, eu tinha mesmo era que
investir em Felipe, o homem que realmente eu queria, só ele e mais
ninguém.
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