Otávio nem quis saber em terminar o que estava falando
e desceu, como sempre, estava faminto, ainda mais hoje que ele estava
no campo desde cedo ajudando tio Pedro. Eu fiquei só por alguns
segundos no quarto, na verdade, o que eu estava sentindo era medo de
encarar meu tio, seu filho e sua esposa ali em minha frente, ter que
agir como se nada tivesse acontecido. Eu sei que a culta também foi
minha, eu estava tomado por um desejo incontrolável, e, por mais que
eu não quisesse transar ali, na cozinha com meu tio, o desejo foi
tão forte que não tive – ou não quis – como resistir. Mas não
poderia ficar enclausurado no quarto até o dia de voltar para a
cidade, tomei coragem e desci, não importa o que fosse acontecer, eu
desci!
Enquanto descia as escadas, ouvia o pessoal conversando
alto e rindo muito, parei um instante nas escadas para ouvir sobre o
que estavam falando, continuei descendo as escadas, degrau por
degrau, quando cheguei na porta da cozinha, todos pararam de falar e
olharam pra mim – tomei o maior susto – como se eu tivesse feito
algo muito grave.
- Pensei que você não vinha almoçar com a gente hoje – exclamou tio Pedro - , venha, sente-se aqui...
- Eu... eu estava tão concentrado na minha leitura que não percebi o tempo passar.
Ele tinha reservado o lugar ao lado dele, não poderia
recusar para não causar má impressão, então sentei bem ao seu
lado. Fiquei calado, muito quieto, cada movimento, cada olhar que
dirigiam para mim, cada brincadeira que faziam, eu ficava desconfiado
pensando que já sabiam de tudo – claro que se soubessem eu nem
estaria mais naquela casa – e que a qualquer momento iriam me
desmascarar.
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