sábado, 7 de janeiro de 2012

CAPÍTULO X - PARTE V


Otávio nem quis saber em terminar o que estava falando e desceu, como sempre, estava faminto, ainda mais hoje que ele estava no campo desde cedo ajudando tio Pedro. Eu fiquei só por alguns segundos no quarto, na verdade, o que eu estava sentindo era medo de encarar meu tio, seu filho e sua esposa ali em minha frente, ter que agir como se nada tivesse acontecido. Eu sei que a culta também foi minha, eu estava tomado por um desejo incontrolável, e, por mais que eu não quisesse transar ali, na cozinha com meu tio, o desejo foi tão forte que não tive – ou não quis – como resistir. Mas não poderia ficar enclausurado no quarto até o dia de voltar para a cidade, tomei coragem e desci, não importa o que fosse acontecer, eu desci!
Enquanto descia as escadas, ouvia o pessoal conversando alto e rindo muito, parei um instante nas escadas para ouvir sobre o que estavam falando, continuei descendo as escadas, degrau por degrau, quando cheguei na porta da cozinha, todos pararam de falar e olharam pra mim – tomei o maior susto – como se eu tivesse feito algo muito grave.
    • Pensei que você não vinha almoçar com a gente hoje – exclamou tio Pedro - , venha, sente-se aqui...
    • Eu... eu estava tão concentrado na minha leitura que não percebi o tempo passar.
Ele tinha reservado o lugar ao lado dele, não poderia recusar para não causar má impressão, então sentei bem ao seu lado. Fiquei calado, muito quieto, cada movimento, cada olhar que dirigiam para mim, cada brincadeira que faziam, eu ficava desconfiado pensando que já sabiam de tudo – claro que se soubessem eu nem estaria mais naquela casa – e que a qualquer momento iriam me desmascarar.

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